Exposição
“A Presença
Emiliano-Romagnola no Brasil”
Introdução
Desde o final do século XIX, a imigração de italianos para o Brasil trouxe consigo muito mais do que apenas pessoas; trouxe um rico legado de história, tradição, sabores, influências, modo de fazer, se expressar e contribuições significativas para a sociedade brasileira.
Encerrando as comemorações dos 150 anos da imigração italiana no Brasil que tiveram início em 2024, é com grande entusiasmo que em 21 de fevereiro de 2025 inauguramos a mostra “A Presença Emiliano-Romagnola no Brasil”, data que celebra anualmente o Dia do Imigrante Italiano no Brasil. Essa é uma homenagem à imigração italiana e ao legado deixado pelos italianos, neste caso, mais especificamente da Emilia-Romagna, no Brasil.
Com o apoio de renomadas instituições brasileiras e italianas, este projeto visa honrar e celebrar a rica herança cultural e histórica dos italianos da Emília-Romagna, seus descendentes, empresas e instituições, que contribuíram e continuam a contribuir significativamente para o desenvolvimento do Brasil. Tais contribuições abrangem áreas como: Agricultura, Indústria, Ciência, Empreendedorismo, Arquitetura, Arte, Gastronomia e Solidariedade Social.
A mostra, com suas salas temáticas, apresenta curiosidades fascinantes, explorando detalhes históricos, culturais e sociais, muitas vezes desconhecidos, mas que tiveram grande relevância local ou nacional.
É um convite à uma imersão profunda em nossa identidade, nossas raízes, no modo como se refletem em nossas vidas, no legado cultural e genético que nos define e a descobrir o que, de fato, permanece vivo em cada um de nós.
Através dessa exposição documental, esperamos oferecer uma experiência enriquecedora fortalecendo o vínculo com o passado, valorizando o presente por meio da autoconfiança característica daqueles que conhecem sua história, e promovendo a esperança no futuro, na certeza de que ele está sendo construído em um sólido alicerce.
Desejamos uma boa visita.
Eduardo Zampar Morelli
Presidente do Circolo Emilia-Romagna di San Paolo
La valigia dell’emigrante
(Gianni Rodari)
Non è grossa,
non è pesante
la valigia dell’emigrante.
C’è un po’ di terra
del mio villaggio,
per non restar solo
in viaggio...
Un vestito,
un pane,
un frutto
e questo è tutto.
Ma il cuore no,
non l’ho portato:
nella valigia
non c’è entrato.
Troppa pena
aveva aa partire,
oltre il mare
non vuole venire.
Lui resta,
fedele come un cane,
nella terra
che non mi dà pane:
un piccolo campo,
propario lassù...
Ma il treno corre:
non si vede più.
Não é grande,
não é pesada
a mala do emigrante.
Há um pouco de terra
do meu vilarejo,
para não ficar sozinho
na viagem...
Uma roupa,
um pão,
uma fruta
e isso é tudo.
Mas o coração não,
não o trouxe:
na mala
não entrou.
Tinha muita dor
em partir,
além do mar
não quis vir.
Ele fica,
fiel como um cão,
na terra
que não me dá pão:
um pequeno campo,
logo ali...
Mas o trem corre:
não se vê mais.
A mala do emigrante
(Gianni Rodari)
Reflexão
Este é um convite a reflexão…a se conectar com a própria
identidade, numa jornada pessoal de autoconhecimento e
valorização da herança genética e cultural, através do sentimento
de pertencimento e orgulho das próprias raízes; e a experimentar
um pouco das emoções vividas por aqueles que, em virtude das
circunstâncias da vida, um dia deixaram a terra de origem e seguiram
rumo ao desconhecido…
Dados obtidos na Pesquisa sobre
A Presença Emiliano-Romagnola no Brasil
Em 2024, conduzimos uma pesquisa online que recebeu cerca de 500 respostas, com o objetivo de compreender melhor a presença e as raízes dos descendentes emiliano-romanholos no Brasil.
O objetivo da pesquisa era identificar e entender melhor a presença, a identidade e os desejos dos emiliano-romagnolos no Brasil relacionados à própria origem. É importante destacar que o número de respostas obtidas não deve ser interpretado como um censo formal, mas sim como uma pesquisa voluntária, que contou com a participação de indivíduos interessados em compartilhar suas relações, experiências e conexões com a Emilia-Romagna.
Os respondentes incluem não apenas aqueles de origem emiliano-romanhola por nascimento, mas por sangue, além daqueles que se consideram emiliano-romanholos por afinidade, analisados separadamente. Para este último caso, essa identificação pode se basear em experiências pessoais, como ter morado, estudado ou até mesmo por motivos ligados ao coração, transcendendo, assim, a questão da ascendência sanguínea.
A pesquisa contou com a valiosa colaboração de nossos parceiros, que ajudaram na divulgação nas redes sociais. Essa parceria foi fundamental para alcançar um público mais amplo.
Agradecemos a todos que participaram e contribuíram para a coleta de dados, o que nos permite aprofundar nosso entendimento sobre a rica diversidade e a identidade da comunidade emiliano-romanhola no Brasil.
Associações
Emiliano-Romagnolas
As Associações Emiliano-Romagnolas no exterior desempenham um papel fundamental na preservação e promoção das tradições, cultura e valores da região. No Brasil, essas associações, que fazem parte da rede do Conselho dos Emiliano-Romanholos no Mundo (Consulta degli Emiliano-Romagnoli nel Mondo), são beneficiárias de programas e iniciativas voltados para a comunidade emiliano-romagnola internacional, conforme previsto pela Lei Regional nº 5, de 27 de maio de 2015, da Emilia-Romagna.
Para ser reconhecida e registrada junto ao Conselho, uma associação deve atender a certos critérios: possuir uma estrutura democrática, ser sem fins lucrativos e realizar atividades contínuas em prol dos emiliano-romagnolos residentes no exterior. Essas atividades devem ter um caráter social, cultural ou educacional, alinhado aos princípios e objetivos estabelecidos pela legislação regional.
Essas associações são pontos de conexão essenciais entre as gerações de descendentes emiliano-romagnolos no Brasil, fortalecendo os laços com a região de origem por meio de eventos culturais, oportunidades de estudo e iniciativas de cidadania.
A História e a Origem dos
Sobrenomes Emiliano-Romagnolos
A Itália conta com mais de 300.000 sobrenomes, uma diversidade impressionante em comparação a outros países da Europa. Essa variedade pode ser explicada pela fragmentação linguística e pela demora no processo de padronização da língua nacional. Com o passar do tempo, alguns sobrenomes se extinguiram, enquanto outros surgiram, muitas vezes por erros de transcrição em cartórios. Quase todos os sobrenomes que conhecemos hoje têm origem medieval e se estabeleceram de forma gradual, com a contribuição de processos migratórios e inovações culturais.
Contrariando o senso comum, nenhum sobrenome italiano deriva diretamente do latim. O sistema romano de três nomes (praenomen, nomen e cognomen) caiu em desuso com o fim do Império Romano, por volta do século V. Com a queda do império, também se perderam muitos registros oficiais, e por séculos, não houve necessidade de registros formais.
Durante os primeiros séculos da Idade Média, as pessoas costumavam ter apenas um nome. À medida que a mobilidade populacional aumentou após o ano 1000, surgiu a necessidade de diferenciar indivíduos com nomes iguais. Foi então que surgiram os sobrenomes, que podiam ser baseados no nome do pai (como De Stefano ou De Simone), na localidade de origem (como Furlàn, Ferraresi, Romano), na profissão (como Barbieri, Fabbri) ou em características físicas ou de personalidade (como Esposito, Mori, Russo).
A obrigatoriedade de registros paroquiais foi instituída somente no Concílio de Trento (1563), que determinou o registro de batismos e óbitos em todas as paróquias. No entanto, foi apenas em 1866 que a Itália adotou o registro civil, que passou a ser mantido em cada município.
Empreendedorismo Emiliano-Romagnolo no Brasil:
Tradição, Inovação e Excelência
A Emilia-Romagna, uma das regiões mais dinâmicas da Itália, se destaca mundialmente por seu modelo empresarial, que associa tradição, inovação e uma abordagem profundamente humana nos negócios. A exposição explora como os emigrantes emiliano-romagnolos e as empresas da região transformaram suas visões em histórias de sucesso no Brasil, moldando diferentes setores econômicos com uma excelência inconfundível.
Desde as primeiras ondas de imigração, os emiliano-romagnolos trouxeram consigo valores como inventividade, resiliência e uma paixão pela excelência. Muitos destes imigrantes se tornaram protagonistas em suas áreas de atuação, liderando projetos visionários e estabelecendo um padrão de excelência que reflete o "saper fare" – o jeito único de fazer negócios que caracteriza a cultura italiana.
Além disso, empresas oriundas da Emilia-Romagna, reconhecidas por sua capacidade de integrar tradição e modernidade, investiram no Brasil ao longo dos anos, criando filiais que trouxeram mais do que produtos ou serviços. Elas introduziram uma cultura empresarial marcada pelo design de ponta, sustentabilidade, inovação tecnológica e atenção aos detalhes. Seja no setor automotivo, alimentício, de maquinário ou de moda, essas empresas exportaram não apenas bens, mas um modelo de gestão eficiente e adaptável.
O espírito emiliano-romagnolo no ambiente empresarial é definido por sua flexibilidade e capacidade de antecipar tendências. Em mercados competitivos, sua inventividade e paixão pelo networking criam pontes que vão além das relações comerciais, estabelecendo conexões pessoais e culturais duradouras.
No Brasil, esse impacto é visível tanto nas iniciativas empresariais quanto na influência sobre o modo de produzir, gerenciar e agregar valor.
Esta seção da exposição convida o visitante a descobrir como a Emilia-Romagna, com suas raízes profundas e visão global, se tornou um elo importante no tecido econômico brasileiro. Uma jornada de histórias que revelam a força de uma tradição empreendedora única, que continua a transformar desafios em oportunidades e a inovar com paixão e criatividade.
A Cozinha Emiliano-Romagnola no Brasil
Tradição que Atravessou Oceanos
Desde o final do século XIX, o fluxo migratório de italianos para o Brasil trouxe muito mais do que pessoas: trouxe histórias, cultura e, principalmente, sabores.
As receitas de família, cuidadosamente preservadas e adaptadas ao longo dos anos, criaram uma ponte cultural através da gastronomia, conectando o Brasil e a Emilia-Romagna em um laço duradouro. Essas tradições culinárias, transmitidas de geração em geração, enriqueceram a diversidade gastronômica italiana no Brasil.
Uma Abordagem Educacional
Inspiradora em Escolas Brasileiras
A Emilia-Romagna, uma das regiões mais dinâmicas e culturalmente ricas da Itália, destaca-se por seu papel central na educação e na formação de parcerias internacionais. Conhecida interncionalmente pela abordagem pedagógica de Reggio Emilia, que transformou a visão sobre a infância e o aprendizado, a região também abriga algumas das universidades mais antigas e prestigiadas do mundo, como a Universidade de Bolonha, a mais antiga do Ocidente, e outras instituições que continuam a figurar entre as mais influentes na formação acadêmica e na pesquisa.
No Brasil, essa conexão educacional ganha vida por meio de uma série de colaborações institucionais, intercâmbios de estudantes e iniciativas conjuntas que aproximam as culturas e conhecimentos dos dois países.
A presença da E-R na
arquitetura brasileira
A influência da arquitetura italiana no Brasil é evidente e constante. Desde as casas estilo italiana nas regiões de imigração a partir da metade do século XIX, até a inspiração para projetos contemporâneos, essa herança cultural e arquitetônica enriquece o cenário brasileiro. Uma característica marcante das construções feitas por italianos são as casas estreitas e enfileiradas, principalmente nas cidades. Geralmente divididas em dois andares, as casas também incluindo porão e sótão.
Além disso, a preservação e a valorização dessas tradições são essenciais para manter viva a conexão entre Brasil e Itália, celebrando a beleza e a funcionalidade das construções italianas. São muitos os profissionais italianos e ítalo-brasileiros que contribuíram na arquitetura brasileira, entre eles destacamos alguns deles, provenientes da Emilia-Romagna.
A Emilia-Romagna na
Arte Brasileira
A Emilia-Romagna é uma terra de imensa tradição cultural, berço de grandes artistas cujas influências ultrapassaram fronteiras e deixaram marcas indeléveis no Brasil.
Desde a música até o cinema, passando pelas artes cênicas e visuais, a região contribuiu profundamente para a formação cultural do país, criando pontes entre a Itália e o Brasil.
Esportes
Não apenas de excelência gastronômica vive a Emília-Romagna! Se trata do "Motor Valley" italiano, a região do automobilismo de excelência. Empresas como a Ferrari, Ducati, Maserati, Pagani, Dallara e Lamborghini nasceram na Emilia-Romagna. Destacamos ainda o autódromo de Ímola, em Bologna.
Em seguida, o futebol com o tradicionalíssimo time do Bologna, campeão italiano sete vezes e o Modena Calcio, clube que por utilizar um uniforme parecido com o da seleção brasileira, ganhou o apelido de “canarinhos” no futebol italiano.
Ressaltamos também o time do Parma, clube que viveu o seu auge nos anos 1990, quando conquistou três competições europeias, sendo duas Copas da Uefa (1998-99), uma Supercopa da Uefa (1993) e uma Recopa Europeia (1992-93).
Asas e Raízes
A história da imigração emiliano-romagnola no Brasil é feita de coragem, separações, trabalho, sacrifícios e transformações. “Asas e Raízes" simbolizam essa jornada: as asas representam o voo em busca de oportunidades. As raízes, a eterna ligação com a terra de origem, a identidade e a cultura.
Nesta sala, você encontrará relatos de pessoas que carregam essa herança, compartilhando suas experiências, memórias e sentimentos sobre o passado e o presente da imigração. São histórias de busca pela identidade, conexões familiares, saudade e pertencimento. Cada testemunho nos ajuda a entender como a cultura emiliano-romagnola segue viva no Brasil.
Entre e descubra como essas histórias entrelaçam passado, presente e futuro.